27 novembro 2016
Um revolucionário de estatura mundial
Pode-se conhecer acerca de um homem tanto por seus detratores quanto por seus fãs. “Fidel Castro era, talvez, o líder revolucionário no poder mais genuíno daquele momento” escreveu Henry Kissinger no último volume de suas memórias. O ex-secretário de Estado e assessor de vários dos ocupantes do Escritório Oval da Casa Branca se referia ao ano 1975 e ao espanto estadunidense perante o envolvimento de Cuba na luta pela independência de Angola. Na dinâmica da Guerra Fria, os soviéticos não queriam se envolver diretamente e Washington apoiava sem rodeios o regime racista de Pretória, na África do Sul.
Fidel demonstrava, mais uma vez, que a Revolução que tinha triunfado em 1959 se norteava por seus princípios e não era satélite de ninguém. O heroísmo dos cubanos que combateram na África e a liderança de Fidel ajudaram a mudar a história desse continente e, tal como assegurou o próprio Nelson Mandela, dar cabo do apartheid.
Era a primeira vez que um país pequeno do hemisfério ocidental enviava forças militares fora do continente e, para espanto de muitos, conseguia um sucesso esmagador. Era uma lembrança de que, inclusive, um pequeno país, quando é guiado por ideais de justiça, pode enfrentar-se aos poderes mundiais. Era revolucionário.
Anteriormente, já tinha feito o que muitos consideravam impossível: uma Revolução socialista a só 90 milhas dos Estados Unidos. Uma ofensa que Washington não deixou de castigar durante mais de meio século, com diversos métodos.
Quando ainda se lutava na Serra Mestra contra a tirania de Batista, o gênio do líder revolucionário previa que a
verdadeira luta seria contra o imperialismo. Porém, esse enfrentamento, que marcou a presença de sua figura em nível mundial, não é um conflito vão contra um país ou contra um governo. É a luta contra uma lógica universal:
“Parece que há dois tipos de leis, um para os Estados Unidos e outro para os restantes países. Talvez seja idealista da minha parte, mas nunca aceitei as prerrogativas universais dos EUA”, disse Fidel aos emissários do presidente Jimmy Carter, em 1978, quando estes chegaram a Havana para exigir condições, com vista a uma melhoria das relações.
Uma voz que não está junto à dos poderosos mas sim com “os pobres da terra” não , podia fazer outra coisa que se expandir como pólvora pelas planícies, as florestas e as montanhas deste continente.
A Revolução Cubana e o pensamento de Fidel têm sido uma inspiração para todos aqueles que procuram um mundo diferente, que supere as contradições que o poder se empenha em mostrar como inevitáveis.
A chama que foi acesa em 1959 atingiu ainda mais força depois da queda do bloco socialista, quando parecia que todas as bandeiras tinham caído. A defesa do socialismo como saída para os problemas da humanidade, inclusive nas condições mais difíceis para um país, colocam Fidel em uma curta lista de revolucionários que souberam interpretar “o sentido do momento histórico”.
E essa convicção nunca esteve colada a dogmatismos. Da mesma forma em que as armas e recursos cubanos estiveram junto das guerrilhas que se enfrentavam às ditaduras de nosso continente, Fidel — o lutador da Serra — soube reconhecer em tempo quando ficou atrás o momento da luta armada e começou o das transformações políticas.
Ele teve o privilégio de ver passar diferentes gerações de revolucionários latino-americanos e estes tiveram a sorte de poder contar com Fidel: desde Salvador Allende até Hugo Chávez, passando por incontáveis e valiosos líderes da região.
“Fidel é para mim um pai, um companheiro, um mestre da estratégia perfeita”, disse Chávez em uma entrevista com o nosso jornal, no ano 2005. O primeiro encontro entre estes dois líderes aconteceu em 1994, ao pé da escada do avião onde Fidel esperava, em Havana, o tenente-coronel, recentemente libertado.
O triunfo de Chávez nas eleições de 1999 foi o começo de uma mudança de época para a América Latina e o Caribe que, tal como reconheceram seus próprios protagonistas, desde Evo Morales até Rafael Correa, teria sido impossível sem o exemplo e a liderança de Fidel.
Embora neste momento uma contraofensiva da direita esteja procurando desfazer os avanços da ultima década, há provas reais dos esforços de integração postergados durante mais de 200 anos, como a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos.
Muitos antes, em uma reunião do Foro de São Paulo, em Havana, em 1993, o líder cubano disse às forças da esquerda: “Que menos podemos fazer nós e que menos pode fazer a esquerda da América Latina doque criar uma consciência a favor da unidade? Isso deveria ser inscrito nas bandeiras da esquerda. Com socialismo e sem socialismo”.
Junto ao seu incansável desempenho revolucionário, o pensamento humanista de Fidel alertou acerca dos grandes problemas da humanidade, desde a mudança climática até a possibilidade da destruição global, por causa do uso das armas nucleares.
Ninguém poderá examinar a história do século XX e a que decorre do século XXI, sem estudar a obra e o ideário deste cubano, que inscreveu um pequeno país do Caribe nas páginas da “verdadeira história universal” a que contam os povos.
Do Granma
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