Queridos amigos de Cuba
A saúde não é um bem, não é propriedade privada. Saúde é
vida, a primeira condição para poder fazer qualquer coisa neste mundo. Os
serviços de saúde não podem ser tratados como qualquer negócio. O ofício de
quem cuida da saúde dos outros sempre será um dos mais belos, será sempre uma
missão, um ato de generosidade e afeto pelos outros.
No Brasil, os médicos cubanos chegaram a lugares onde não
havia médicos brasileiros. Para muitas comunidades pobres e distantes, algumas
delas indígenas, que nunca foram atendidas por um profissional de saúde.
Muitos criticaram o governo da presidente Dilma Rousseff
por trazê-los. Como seria bom poder passar sem eles! Que o Brasil tivesse
médicos suficientes com quem todas as praças do interior e as periferias pobres
do Brasil poderiam ser cobertas. Quão bom seria se tivéssemos, como Cuba,
médicos suficientes para exportar para outros países! É muito bom ver como uma
ilha latino-americana exporta médicos em todo o mundo. Muito melhor do que os
países ricos, que exportam soldados, lançam bombas em comunidades pobres. Cuba,
por sua vez, exporta vida, amor e saúde.
Acontece que não temos tantos médicos. O Brasil foi o
último país da América do Sul a ter uma universidade, inaugurada em 1922. E foi
porque tiveram que criá-la para conceder o título de Doutor ao Rei da Bélgica!
Brasil e Cuba viveram séculos de escravidão e exploração colonial. Mas dos
dois, apenas Cuba tem médicos suficientes para exportar para o mundo.
Antes do Partido dos Trabalhadores tomar o poder, no
Brasil a medicina era uma carreira exclusiva para o filho dos ricos. Antes de o
PT chegar ao poder, o filho do pobre homem não tinha sequer o direito de sonhar
em se tornar médico. Criamos cotas para negros e estudantes de escolas públicas
em universidades federais, estendemos os mecanismos para que os jovens pudessem
estudar gratuitamente em escolas particulares ou, ao invés disso, pagar juros
baixos assim que terminassem seus estudos. Abrimos novas universidades,
incluindo cursos de medicina, no interior do país. Aumentamos a matrícula de
jovens pobres e negros no ensino superior. Quando o golpe de Estado para a
democracia ocorreu em 2016, com o objetivo de retirar o PT do governo, uma das
primeiras medidas adotadas foi impedir a criação de novos cursos de medicina no
país. Proibir a formação de mais profissionais de saúde. Um absurdo!
Mas o governo de Michel Temer, a pedido dos prefeitos das
cidades, ciente de como era difícil encontrar médicos para as unidades de
saúde, manteve o programa Más Médicos de 2016 até 2018.
Quando os médicos cubanos chegaram ao Brasil, tentaram
desacreditá-los de qualquer forma. Mas eles venceram pela qualidade do serviço
prestado ao povo brasileiro. Por sua dedicação, por cuidados médicos, por seu
conhecimento e profissionalismo, pela medicina humana e preventiva que colocam
em prática. Eles ganharam o carinho e a gratidão de milhões de brasileiros que
agora temem perder novamente os cuidados médicos que salvaram tantas vidas no
Brasil.
Lamento que o preconceito do novo governo contra os
cubanos tenha sido mais importante que a saúde dos brasileiros que vivem nas
comunidades mais distantes e carentes.
Agradeço aos médicos cubanos que souberam superar as
críticas e preconceitos e nos ensinaram que uma medicina mais humana não só é
possível, como também é mais eficiente para melhorar os indicadores de saúde de
nossas comunidades. Finalmente, os médicos trocaram experiências e
conhecimentos com muitos médicos brasileiros e alertaram a todos sobre a
importância da medicina preventiva e da atenção médica às famílias.
É por isso que quero expressar ao povo cubano: que eles
podem se sentir muito orgulhosos de seus médicos e de suas faculdades de
medicina. No Brasil, você conquistou milhões de admiradores, a gratidão de
milhões de pessoas.
O distrito de Batinga, na cidade de Itanhém na Bahia,
organizou uma marcha com a participação de toda a comunidade para se despedir
de Dr. Ramon Reyes, que durante anos lhe deu atenção médica e foi capaz de
ganhar a simpatia de todos. Eles saíram com cartazes em que agradeceram todas
as coisas boas que o médico fez e estavam esperançosos de que ele voltaria um
dia. Um simples e sincero tributo de pessoas que receberam o cuidado atento a
partir de uma ilha caribenha distante durante décadas cercadas por um bloqueio
feroz imposta pelo país mais poderoso da terra, e que ainda consegue exportar
médicos e conhecimento.
Os laços de fraternidade existentes entre os povos são
mais fortes do que o ódio irracional de alguns representantes da elite.
É a lição dada pelos médicos cubanos em tantos países do
mundo e também aqui no Brasil.
Muito obrigado
Luis Inácio Lula da Silva
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