04 abril 2019

"Fomos médicos, mas hoje não somos nada, dizem os cubanos que ficaram no Brasil"


No último mês de novembro, Cuba anunciou sua retirada do programa Mais Médicos pelas condições impostas pelo novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os que ficaram, enfrentam uma dura realidade: não podem exercer a medicina e tão pouco encontram outro tipo de trabalho. A promessa de Bolsonaro de que os doutores cubanos que quisessem ficar no país receberiam asilo e poderiam trabalhar como médicos, se revalidassem seu título, acabou numa promessa vazia.


Os testemunhos concedidos nas entrevistas realizadas recentemente pela BBC Mundo à um grupo de profissionais cubanos da saúde, mostram a precariedade do estado em que sobrevivem.

A doutora cubana Yulia Molina Hernández disse não saber em que outras portas bater para sair da situação em que se encontra. O Dr. Joan Rodríguez relata: “cheguei no Brasil em junho de 2017 e estive trabalhando normalmente até o cancelamento do programa. Aguentei dois meses com a poupança que tinha”. O governo brasileiro fez uma convocatória pública, para cobrir as 8500 vagas que ficaram vazias com a saída de Cuba do Mais Médicos. “Nós cubanos podíamos nos inscrever, no entanto, um dia antes de podermos escolher uma vaga, nos eliminaram o direito de participar e de trabalhar. Só nos disseram que poderíamos ir as polícias federais de cada estado para pedir refúgio”.

O médico cubano continua narrando sua odisseia: “Nos deram um papel, a solicitação de refúgio, com o qual poderíamos ir ao Ministério do Trabalho e pedir uma carteira de trabalho, que é como uma permissão para poder trabalhar no Brasil”.


Na realidade, a carteira de trabalho não tem servido de nada. “Quando dão conta de que somos cubanos e que éramos integrantes do programa Mais Médicos, fecham para nós todas as portas de trabalho”.

Um dos graves problemas que enfrentam na hora de buscar emprego em qualquer outra coisa é a sobrequalificação, “quando se enterram de que somos médicos nos dizem que não podem nos oferecer trabalho porque nosso nível hierárquico é superior”.

“Fomos médicos, sim”, fala Joan, “mas, atualmente não somos nada, somos como qualquer outra pessoa, que necessita de trabalho para poder subsistir”.

Yulia Molina vive no nordeste do país. “A entrada de dinheiro onde vivo é muito mais pobre porque as coisas são muito mais caras. O que se compra no Sul por um preço, aqui te vendem pelo dobro. Estou dois anos sem trabalhar. Não encontro trabalho porque sou doutora, tanto faz, eu só quero é trabalhar”.

Ela continua: “Antigamente nos viam como deuses, hoje em dia nos veem como nada”. Antigamente representavam uma medicina bem diferente, a medicina solidária da Revolução Cubana.

Molina aponta que conhece muitos compatriotas que estão passando por situações muito delicadas e se considera uma pessoa com sorte, pois, seu esposo tem trabalho. “Conheço casos de gente que vivem em 15 numa casa para poder pagar o aluguel, alimentando-se da forma menos saudável possível, colegas que estão desesperados”.

A possibilidade destes cubanos de revalidar o título se torna cada vez mais distante. Conseguir um trabalho, qualquer que seja, converte-se na única possiblidade, a outro seria esperar que aconteça uma convocatória de exame de revalidação para poder competir no mercado de trabalho em condições de igualdade com os brasileiros, mas, a má notícia é que desde 2017 não são realizados exames e podem levar anos para que se convoque algum.

Ao contrário do que declara a BBC Mundo e outros meios de imprensa, o Ministério de Saúde Pública de Cuba, dia 12 de fevereiro de 2019, ratificou que está disposto a recebe-los na Pátria e oferece a eles emprego no sistema nacional de saúde. A Embaixada e consulados cubanos no Brasil estão prontos para apoiar o retorno dos médicos, proporcionando-lhes a documentação requerida e os assistindo no que estiver a seus alcances.

Os inimigos da Revolução Cubana têm tratado de tomar partido da situação, revivendo velhos programas subversivos, que têm como único propósito o de manchar a imagem da colaboração médica cubana e prejudicar a Ilha.

Sem nenhuma ética ou classe, sem respeito a vida das pessoas que um dia optaram pelo caminho equivocado, manipulam e mentem, no entanto em Cuba, como diz a declaração do Minsap: “reafirmamos nossa lealdade aos ensinamentos de nossa Revolução e de nosso Comandante, que nos educaram para nunca deixar a ninguém abandonado no caminho.

26 de março de 2019

Escrito por Raúl Antonio Capote

Do granma.cu

Um comentário: