27 outubro 2016

Bloqueio contra Cuba, rechaço universal e abstenção dos EUA


A Assembleia Geral da ONU exigiu pela vigésima quinta ocasião consecutiva, desde 1992, o fim do bloqueio contra Cuba, mediante uma resolução apoiada por 191 países e ante a qual Estados Unidos se absteve pela primeira vez.

Em uma sessão plenária ontem, o principal órgão deliberativo das Nações Unidas, o único que acolhe em igualdade de condições os 193 Estados membros da organização, reivindicou mais uma vez a suspensão do cerco econômico, comercial e financeiro vigente durante mais de meio século.

A iniciativa adotada aqui apela para o respeito aos princípios e propósitos da Carta da ONU, documento de fundação que defende a solução pacífica de controvérsias, a amizade e a cooperação entre os países, a não ingerência nos assuntos internos e o respeito à soberania.

Intervenções dos cinco continentes recordaram a Washington que com seu bloqueio unilateral e extraterritorial, ignora esses critérios que levaram ao nascimento das Nações Unidas depois da sangrenta Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Antes da votação, Tailândia, em nome do Grupo dos 77 mais China, que reúne 134 das 193 nações independentes do planeta, e Venezuela, representando o Movimento de Países Não Alinhados, que acolhe 120 Estados, repudiaram o cerco por violar o Direito Internacional e por seu impacto sobre a população.

Além da esmagadora maioria de governos que novamente exigiram aos Estados Unidos suspender as sanções, se destacou na sessão da Assembleia Geral a inédita abstenção da Casa Branca, anunciada por sua representante permanente Samantha Power e imitada por Israel.

Power admitiu a condenação universal ao bloqueio e seu fracasso na tentativa de derrotar a Revolução Cubana, e expressou expectativas de que a mudança de postura ajude na melhoria das relações bilaterais.

Ainda que para os grandes meios de imprensa, sobretudo do ocidente, a notícia foi que Estados Unidos se absteve, a realidade não pode ser ocultada, o mundo voltou a se pronunciar com clareza contra o cerco mantido por 10 presidentes norte-americanos, sem deixar de reconhecer e celebrar a aproximação entre Washington e Havana.

A propósito da mudança de posição estadunidense, o chanceler da ilha, Bruno Rodríguez, ressaltou na Assembleia que o Presidente dos Estados Unidos possui amplas prerrogativas executivas que não tem empregado, como ainda poderia, para reduzir substancialmente o impacto humanitário e econômico do bloqueio.

'Esta mudança de voto significa que as utilizará com determinação?', perguntou.

Rodríguez chamou o mundo a julgar não pelas palavras, mas pelos atos, e estes demonstram a vigência das sanções, o recrudescimento da perseguição financeira e o obstáculo ao desenvolvimento da ilha, justamente quando a comunidade internacional impulsiona a Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável.

BLOQUEIO CONTINUA, OBAMA PODERIA FAZER MAIS
O chanceler da maior das Antilhas denunciou a continuidade das sanções econômicas, comerciais e financeiras, apesar dos progressos nas relações bilaterais.

'Sem dúvida, registraram-se avanços no diálogo e na cooperação em temas de interesse comum e foram assinados vários acordos que registram benefícios recíprocos (...) No entanto, o bloqueio persiste, provoca danos ao povo cubano e obstaculiza o desenvolvimento econômico do país', sublinhou.

Além disso, precisou que por seu marcado caráter extraterritorial, também afeta diretamente a todos os Estados membros das Nações Unidas.

De acordo com Rodríguez, são incalculáveis os danos humanos produzidos pelo cerco, que afeta cada família e setor do país caribenho, incluindo áreas sensíveis como a saúde humana, a educação e a alimentação.

Em relação às ações executivas decretadas pelo presidente Barack Obama para modificá-lo, reconheceu-as, e enfatizou que constituem passos positivos, mas de efeito e alcance muito limitado.

A maioria das regulamentações executivas e as leis que estabelecem o bloqueio permanecem vigentes e são aplicadas com rigor até este minuto pelas agências do governo estadunidense, afirmou o funcionário, que reiterou as amplas faculdades de Obama para neutralizar seus impactos e propiciar um melhor cenário para a aproximação comercial.

ENCERRAMENTO DE SOLIDARIEDADE
A jornada de votação contra o bloqueio encerrou no final da tarde em Nova Iorque, com a presença de um grupo de estadunidenses solidários a Cuba em frente à sede da ONU, onde levaram bandeiras da ilha e cartazes de 'Stop the US blockade of Cuba' (Detenham o bloqueio dos EUA a Cuba) e 'US hands off Cuba' (EUA, mãos fora de Cuba).

'Estamos aqui representando a comunidade norte-americana que defende o fim de um castigo responsável por tanta dor, e também para nos unir ao mundo, porque 191 países apoiaram a resolução da Assembleia Geral, com duas abstenções, algo histórico', declarou à Prensa Latina o ativista Benjamin Ramos.

Segundo um dos coordenadores do Projeto de Solidariedade a Cuba em Nova Iorque, não pode ser ignorada a rejeição universal às sanções econômicas, comerciais e financeiras vigentes por mais de meio século.

Outra das ativistas estadunidenses presentes na manifestação em frente à ONU, Kathe Carlson, assegurou que no país do norte há muitas pessoas contrárias à política hostil da Casa Branca para a ilha.

Estamos aqui para apoiar a soberania de Cuba sem a ingerência norte-americana, uma luta na qual nos empenhamos há vários anos, sublinhou.

Para Carlson, as mudanças na política de Washington para o país caribenho, realizadas pelo presidente Barack Obama, e a abstenção de ontem na ONU, servem de estímulo para continuar exigindo o fim de um bloqueio que qualificou de injusto, ilegal e imoral.

'Este voto de abstenção não é o que queremos, mas é um avanço e uma maneira de continuar esta luta', expôs.

Da Prensa Latina

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